terça-feira, 17 de julho de 2012

MAIS UM ALUNO BRASILEIRO SE DESTACA NA IMPRENSA POR ENFRENTAR O DESAFIO DE ESTUDAR NA RUSSIA EM BUSCA DE REALIZAR O SEU SONHO DE ESTUDAR MEDICINA.


Mossoró
Por Redação em 14/07/2012 às 14:23
Mossoroense realiza sonho e cursa medicina
De férias na terra potiguar, estudante fala das diferenças entre a realidade brasileira e a vida na Rússia
Cedida
Já adaptado, Galileu Oliveira passeia por Kursk
Luciana Araújo
Da Redação

"Que vale a pena tentar e que as pessoas não desanimem, que tudo vem no tempo de Deus. Quer seja nos Estados Unidos, seja na Europa, você sempre vai encontrar uma maneira de realizar os seus sonhos. Nunca deixe que as dificuldades apaguem os sonhos dentro de você". Essa é a lição tirada pelo potiguar Galileu Galilei Serafim de Oliveira, que sempre desejou cursar uma graduação no exterior e hoje coloca em prática a meta.

O jovem, que hoje tem 19 anos, sonha em ser médico desde que era criança. Com esse pensamento, tentou vestibular nas universidades próximas, mas não foi aprovado. Porém, isso não foi barreira para que continuasse em busca da realização de seu sonho. Foi aí que ele tentou outra alternativa e se submeteu ao processo de seleção da Kursk State Medical University, que fica em Kursk, cidade do interior da Rússia.

O primeiro passo para a realização foi dado, após aprovação. Ele já cursou o primeiro semestre de Medicina. Agora, de férias acadêmicas, volta ao Brasil pela primeira vez para rever a família e os amigos e conta as diferenças que já pôde observar durante o período na Europa.

"O método do Brasil é diferente do exterior", comenta. A seleção, feita pela Aliança Russa, é semelhante ao processo realizado nos Estados Unidos. O estudante, que deve ter cursado pelo menos três anos de inglês em uma escola de idiomas, submete seu currículo e histórico escolar para análise e, passada essa fase, já em Kursk, realiza três provas - Biologia, Química e Física. Galileu passou por todo o processo e foi aprovado, sem ter que passar pelo curso preparatório existente na cidade russa.

"Eu não achei difícil, é bem mais fácil entrar", acrescenta. Já a graduação, o jovem considera mais complexa, pois todos os dias são realizadas provas orais e os alunos devem conhecer cada um dos termos de anatomia em inglês e latim. Além disso, uma vez tendo ingressado no curso, os estudantes assistem aulas em inglês, mas durante a formação também têm aulas de russo, para que possam se comunicar com os pacientes sem dificuldades, tendo em vista que esses pacientes não são obrigados a conhecer outra língua. "Eu não falo fluentemente, mas, vamos dizer, em uma expressão popular, que eu sei me virar", diz o jovem.

Mas Galileu não reclama, ao contrário, ele demonstra entusiasmo, sobretudo com relação à importância dedicada à educação e qualificação, características que ressalta: "Professor lá é, realmente, autoridade. A valorização é bem diferente do Brasil".

Os estudantes que se esforçam também são valorizados e aqueles que obtêm boas notas ao se formarem recebem um diploma diferenciado. Em papel vermelho e com assinatura do governo europeu, o documento garante que o seu portador possui excelência em Medicina.

"A universidade se diferencia pelo nível de dedicação e estudo, não é no nível tecnológico", comenta Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira.

Galileu é um dos alunos esforçados da turma. "Eu passo o dia na minha faculdade", comenta. Aliás, a dedicação tem que ser intensa, pois o objetivo é formar não apenas médicos, mas cientistas.

O curso tem duração de seis anos e uma carga horária equivalente a 11.400 horas. Outra diferença diz respeito ao contato dos
estudantes com os pacientes, que é iniciado desde o segundo semestre.

As diferenças não param por aí. Na universidade onde estuda, cada turma comporta, no máximo, 12 alunos. Na sala de Galileu todos são brasileiros e ele divide o espaço, inclusive, com uma mossoroense, a jovem Melissa Aste. "Mossoró está fazendo valer", conta.
Mas não são apenas os russos e brasileiros que dividem espaço com o estudante potiguar. Árabes, indianos, norte-americanos, entre outros, compartilham a intensa rotina de estudos que os transformará em médicos. São alunos de, pelo menos, 80 nacionalidades matriculados na Kursk State Medical University, o que proporciona um enriquecimento cultural.

No meio de todos eles, uma característica faz com que os brasileiros se destaquem: "A simpatia. A alegria do brasileiro é contagiante, porque aqui, apesar das pessoas conviverem com tantos problemas, elas são felizes", afirma.

Mas Galileu, que já foi conquistado pela cultura russa, garante que os habitantes do país europeu não são frios, eles apenas são mais tímidos, fruto da própria cultura.


Estudante relata adaptações às baixas temperaturas da Rússia

Mas não foi apenas a um método diferente de ensino que Galileu teve que se submeter para correr atrás do seu sonho. As próprias condições naturais do país são totalmente diferentes do Brasil. A começar pelas temperaturas. O jovem saiu de uma cidade onde os termômetros registram uma média anual de, aproximadamente, 27,4º e foi viver em um lugar onde os índices são negativos. "Eu peguei menos 30º", conta. Apesar disso, ele garante: "É mais fácil você morrer de frio no Brasil do que na Rússia. Porque a Rússia é muito preparada", comenta, acrescentando que o sistema de calefação é eficiente. "A Rússia não é como o Brasil, que espera uma catástrofe acontecer para se precaver", complementa.

Ludimilla acrescenta que o serviço urbano é eficiente e todas as manhãs a neve das ruas é retirada. No entanto, há uma dificuldade, a preparação para o frio, pois as roupas que realmente protegem contra as baixas temperaturas não são encontradas aqui, pelo menos não com facilidade.

De início, ela quis resistir à mudança do filho, que, aliás, é único. Ela, que foi deixá-lo na Rússia comenta que chegou a dizer para ele não desfazer as malas, porque os dois iriam voltar para o Brasil. A distância e o frio amedrontaram. "O frio intenso é insuportável", lembra. "Foi muito difícil como mãe. Foi a dor do parto", diz ela, lembrando que são três dias de viagem de um lugar para o outro, problema que se agrava pela ausência de um aeroporto em Mossoró. Mas o coração de mãe, que abre mão dos projetos próprios pela felicidade de realização do filho, falou mais alto.

As condições naturais, por sinal, são apenas um detalhe, a maior divergência entre a nossa realidade e o contexto vivenciado por Galileu no último semestre é "a segurança", garante o estudante. O desenvolvimento de políticas públicas eficazes também faz a diferença no dia a dia dos populares. Com uma população superior a 400 mil habitantes, a cidade, que fica a quase 500 km da capital Moscow, tem um índice de violência de 0,5%.

Com uma visão mais ampla e consciente de que o desenvolvimento é consequência dos investimentos em educação, o jovem critica a situação de Mossoró e faz um apelo. "Mossoró precisa de um prefeito que invista em segurança e educação. Se o Brasil quer imitar algo dos Estados Unidos, da Europa, de fora, que imite não só a moda, imite a educação", ressalta.

Ele, que é filho de professores universitários, se envergonha das condições de ensino superior que têm sido refletidas, onde os professores precisam fazer greve para ter seus direitos garantidos. "Isso é uma vergonha para o país. Um país que é a sexta economia do mundo, mas os índices de educação estão lá embaixo", critica.

Já a semelhança observada pelo jovem, infelizmente, não é animadora. "A diferença em termos de economia", diz ele, explica que as desigualdades sociais se assemelham no sentido de que, tanto lá quanto aqui, quem possui riquezas possui em grande quantidade, enquanto quem é pobre é muito pobre.