quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Alunos de medicina ficam espremidos em enfermarias em RO


Edição do dia 11/12/2012
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/12/alunos-de-medicina-ficam-espremidos-em-enfermarias-em-ro.html
11/12/2012 20h47 - Atualizado em 11/12/2012 20h58

Alunos de medicina ficam espremidos em enfermarias em RO


A segunda reportagem da série sobre a formação dos estudantes de medicina mostra o qeu aconteceu no estado que ganhou quatro faculdades de medicina nos últimos 11 anos.

Nesta semana em que o Jornal Nacional examina como anda a formação dos médicos brasileiros, nós mostramos, nesta segunda-feira (10), uma divergência de opiniões sobre esse assunto. O governo afirma que faltam profissionais no Brasil, mas os órgãos que representam os médicos discordam, e argumentam que o problema é que os médicos estão muito concentrados no Sul e no Sudeste. Nesta terça, nós vamos ver o que aconteceu em um estado que ganhou quatro faculdades de medicina nos últimos 11 anos exatamente para tentar suprir essa carência de profissionais. É Rondônia, na Região Norte.
No principal hospital de Porto Velho, o calor e o mau cheiro tornam o ar pesado. Mas o pior é o que se vê: uma situação degradante para todos.
“É um hospital que não é para ensino. Você tem que atender paciente no chão, tem que ficar colhendo a história dele lá passando mal”, diz uma mulher.
Esperança. A palavra define o que significou para Rondônia a criação da primeira faculdade de medicina do estado em 2001. Esperança de ter uma quantidade de médicos suficiente para criar um sistema de saúde decente, digno. Onze anos depois, Rondônia já tem quatro faculdades de medicina. A esperança, bem, continua sendo apenas isso: esperança.
A precariedade não é apenas dos hospitais. Na Unir, que é a escola pública de medicina, professores chegam a doar livros para a biblioteca, e o único cadáver já não tem condições para os estudos.
“Inclusive estava até nascendo uma planta dentro do cadáver, por causa que o formal estava vencido”, revela Vando De Souza Júnior, aluno do quinto ano.
Já as faculdades particulares em Rondônia são bem montadas. Tanto a Fimca, Faculdades Integradas Aparício Carvalho, quanto a São Lucas vêm investindo em equipamentos.
Os diretores das particulares defendem a política de aumento no número de formandos. Em Rondônia, já são 280 novos médicos por ano. A diretora da São Lucas diz que a maioria fica por lá.
“Dos que nós formamos, são, acho que cinco turmas que nós formamos, uma turma não ficou aqui, mas a maioria ficou no estado de Rondônia”, afirma Maria Elisa Aguiar, diretora da Faculdade São Lucas.
O dono da Fimca, Aparício Carvalho, acredita em melhoria. “Frustrante ter formado três turmas e ver o sistema de saúde assim. Acho que sim, podemos melhorar muito. Isso nós estamos melhorando. Se você for hoje ver, fazer uma avaliação de todos os hospitais, de todo campo de saúde do município, você vai ver que melhorou muito.”
Os alunos são mais críticos, e apontam o principal problema na formação do médico no estado: a falta de um hospital-escola e de organização do sistema de saúde.
“Tinha que ter um hospital universitário para cada faculdade. A gente tem que brigar pelos hospitais que existem na rede”, opina Renan de Paula, aluno do quarto ano.
Uma briga que gera outro tipo de superlotação nos hospitais: a de alunos. Eles estão sempre espremidos nas enfermarias e nos quartos, tentando aprender. A prática fica sofrida para alunos e pacientes.
“Oito pessoas tocando ao mesmo tempo o corpo de um paciente? Não é muito agradável”, diz Filipe Souza, aluno do quarto ano.
“O paciente simplesmente falou: nossa, de novo. Vou ter que ser examinado de novo”, acrescenta Joshua da Rocha, aluno do terceiro ano.
O professor Eliesson Rocha diz que os alunos são bons para o sistema: “Se esse aluno receber suporte adequado, orientação adequada, com certeza ele melhora a qualidade de qualquer serviço.”
Mas em um ambiente caótico, a quantidade de alunos gera é reclamação, como flagramos em uma conversa entre funcionários e professores de medicina:
- Vai lá na sutura agora, você tem milhões de alunos, milhões.
O número excessivo de internos foi registrado em documento que pede providências à direção do hospital João Paulo. Foi por tudo isso e pelas notas baixas em avaliações como o Enade que em 2010 o Ministério da Educação cortou vagas nas faculdades particulares de Rondônia. Uma espécie de freio para melhorar as condições de ensino.
“Houve corte de vagas, e eles estão tentando aumentar novamente o número de vagas. Mesmo com a situação ruim que está acontecendo, quer dizer, você está tendo prejuízo na qualidade, nós não podemos perder a qualidade da formação médica”, avalia Raitany Almeida, professor da Universidade de Rondônia.
Para evitar problemas como o de Rondônia, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anunciou mudança ao Jornal Nacional. O governo é que vai decidir em que locais serão abertas novas faculdades.
“Nós vamos verificar onde há condições de abrir, onde há infraestrutura de saúde pública, onde há necessidade para novos cursos de residência, e vamos fazer editais. Então, quem oferecer a melhor proposta para aqueles lugares estratégicos é que vão ser autorizados a abrir o curso de medicina”, declarou o ministro.
Para os problemas que existem hoje, o professor cobra providências imediatas.
“O ministério precisa vir aqui, precisa ver como que está, e as instituições têm que ter mais responsabilidade com os alunos que estão formando. Saúde não é brincadeira, saúde é vida”, destaca Raitany Almeida.
No Ministério da Educação, existem hoje 2,5 mil pedidos de abertura de faculdades de medicina. O ministro Mercadante disse que não autorizará o funcionamento de nenhuma, e que, a partir de agora, será necessário seguir o novo critério de editais.
Na reportagem desta segunda, nós mostramos a situação da faculdade de medicina de Garanhuns, em Pernambuco, inaugurada no ano passado. Nesta terça, o governo do estado esclareceu que 12 novos professores foram contratados para completar a grade do curso de medicina, e que a faculdade recebeu verbas para a ampliação do espaço e para a compra de livros e equipamentos diversos. O governo de Pernambuco declarou, ainda, que está realizando adaptações para que um hospital da região funcione como hospital-escola.
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