segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Entrevista com o embaixador do Brasil na Rússia, Senhor Carlos Antônio da Rocha Paranhos

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Entrevista com o embaixador do Brasil na Rússia, Senhor Carlos Antônio da Rocha Paranhos

 
19.11.2012, 09:38, UTC
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Entrevista com o embaixador do Brasil na Rússia, Senhor Carlos Antônio da Rocha Paranhos
RIA Novosti

Dentro da série de entrevistas realizada pela Voz da Rússiasobre a primeira visita oficial da Presidenta Dilma Rousseff à Rússia, de 12 a 14 de dezembro, conversamos com o Embaixador do Brasil na Rússia, Carlos Antônio da Rocha Paranhos.

Esta entrevista foi realizada por Arnaldo Risemberg.

– Embaixador Carlos Antônio da Rocha Paranhos, as relações políticas do Brasil e da Rússia estão muito bem. Mas o mesmo não se pode dizer das relações comerciais. Por que as relações econômicas entre Brasil e Rússia estão em ritmo tão lento?
– Eu não acho que elas estejam em ritmo lento. Acho que podem se desenvolver ainda mais. Nós temos o compromisso, digamos assim, assumido no passado, de chegar a um volume de comércio da ordem de 10 bilhões de dólares. Chegamos a ter mais de 8 bilhões de dólares, em 2008. Depois veio a crise econômica, que afetou vários países, inclusive a Rússia. Temos uma recuperação gradual do comércio. No ano passado o nosso comércio bilateral já esteve em torno de 7 bilhões e 160 milhões, o que não é absolutamente desprezível. Um comércio, inclusive em termos de intercâmbio de mercadorias, superior ao comércio com muitos países europeus ocidentais. Então, nós estamos trabalhando. Agora, o grande desafio que temos, tanto o Brasil quanto a Rússia, é o de trabalhar na direção de uma diversificação da nossa pauta. Nos dois casos, ela ainda é muito concentrada em produtos primários, comumente conhecidos como commodities. Então, a Rússia é um importantíssimo mercado para o Brasil para todo o segmento de carnes. A Rússia é o nosso primeiro parceiro, primeiro importador de carnes bovinas, é um importantíssimo mercado para a carne suína e também para a carne de frangos. No ano passado foi a primeira destinação das exportações do açúcar brasileiro, é também um mercado importante para tabaco, ferro, etc. E a Rússia é um importante fornecedor ao Brasil de fertilizantes ou componentes de fertilizantes. Agora, o nosso desafio, como eu disse, é o de diversificar essa pauta de maneira que possamos ter cada vez mais produtos de maior valor agregado, e não ficarmos sujeitos às flutuações de preços de commodities. E também é preciso levar em conta que, em certos casos, houve diferentes performances em matéria de exportação dessas commodities. Então eu acho que nós temos que trabalhar de maneira intensa e criativa para desenvolver e diversificar essa pauta nos dois sentidos.

– Embaixador Paranhos, a Voz da Rússia e o site Diário da Rússia têm realizado uma série de entrevistas com as mais diversas personalidades da economia e da política em torno da primeira visita oficial que a Presidente Dilma Rousseff fará à Rússia em dezembro. Um dos entrevistados da nossa série foi o vice-presidente do banco Vneshekonombank, Serguei Vasiliev, que também é presidente do Conselho Comercial Rússia-Brasil. Em sua entrevista, ele disse que o Vneshekonombank russo e o BNDES brasileiro criaram linhas conjuntas de créditos e outras facilidades para empresas interessadas em negócios nas áreas de desenvolvimento tecnológico e inovações, mas que até o momento não existem esses projetos. Qual a sua opinião sobre esses fatos?
– Eu acho que já é uma iniciativa muito positiva que os bancos dos dois países tenham chegado a esse entendimento. O Vneshekonombank tem todo o interesse em financiar projetos que envolvam a participação de empresas russas, fornecendo maquinaria, equipamentos, etc. Temas esses que no Brasil, em geral, são objetos de grandes projetos e grandes licitações públicas. E quase sempre com participação conjunta de empresas brasileiras. Eu acho que é uma questão de tempo. Nós vamos realmente ter projetos financiados nos dois sentidos. Agora, o grande ponto que eu gostaria de ressaltar é que nós estamos assistindo ao longo dos últimos meses, mais especificamente ao longo do último ano e meio, uma situação bastante distinta quando alguns grupos privados russos estão de certa forma descobrindo o Brasil, descobrindo as oportunidades de investimento no Brasil. E também grupos privados brasileiros investindo na Rússia. Isso me parece extremamente importante. Porque nós também não podemos imaginar que o intercâmbio bilateral, seja na área estritamente comercial ou em termos de investimentos, tenha que repousar apenas em empresas estatais ou empresas apoiadas pelo Estado. Então, nós temos agora, enfim, interesses russos. Por exemplo, a empresa TNK comprou a maioria acionária de uma empresa brasileira, o que lhe permite explorar petróleo na Bacia do Solimões. A empresa Mechel também comprou participação numa siderúrgica no Pará. Há o interesse também da Severstal russa em iniciar operações na área de mineração no Amapá. E, do lado brasileiro, nós vemos também que há um crescente interesse de empresas em investir ou fazer associações com empresas russas. Então, por exemplo, na próxima visita da Presidenta Dilma Rousseff aqui a Moscou, deverá ser lançado o primeiro ônibus com projeto e tecnologia brasileiros, produzido aqui em associação com a empresa russa Kamaz. É uma iniciativa da Marcopolo, que é uma grande produtora de carrocerias de ônibus, e finaliza uma direção nova em termos de relações econômicas bilaterais. Da mesma forma, o grupo JBS tem sido muito ativo aqui, teve um investimento com um grupo italiano para a produção de industrializados de carne e para a venda no mercado russo. Enfim, eu acho que nós estamos cada vez mais conscientes de que é necessário também, para além do mero comércio de mercadorias, favorecer investimentos nos dois sentidos.

 Embaixador Paranhos, outro entrevistado dessa série de abordagens que nós estamos realizando, Benedito Rosa do Espírito Santo, que é diretor de Assuntos Comerciais Externos do Ministério da Agricultura do Brasil, declarou que a visita da Presidente Dilma Rousseff à Rússia produzirá resultados mais pragmáticos para o nosso país. O que o senhor pensa sobre essa previsão?
– Eu acho que ele tem toda a razão. Eu acho que nós estamos trabalhando em várias frentes. Como você sabe, nós tivemos problemas de interdição de algumas indústrias produtoras de carne em razão de alegados problemas de controle ou de sanidade do animal. O lado brasileiro está trabalhando ativamente para resolver todas essas questões. Inclusive, nos próximos dias da semana que vem, teremos aqui em Moscou uma missão de alto nível do Ministério da Agricultura, chefiada pelo secretário de Defesa Agrícola, para apresentar ao lado russo todos os resultados dos relatórios feitos a respeito de todas as missões de avaliação mandadas pela Rússia ao Brasil. E eu fico muito satisfeito de registrar isso porque é importante observar que a Rússia é o nosso maior mercado para carne bovina e um importantíssimo mercado para todo o seguimento de carnes. E é do nosso maior interesse preservar esse bom relacionamento, preservar a noção de que a carne brasileira é de boa qualidade, segue as mais rígidas normas de controle de qualidade, rastreamento, etc. E estamos trabalhando ativamente, estamos mantendo um diálogo muito fluido com as autoridades russas nesse campo e eu tenho certeza de que essa próxima visita e todas as conversações que vêm sendo mantidas serão de molde a resolver os problemas ainda pendentes nas áreas de exportação do segmento de carnes.
– Nessa mesma entrevista a que nós nos referimos, de Benedito Rosa do Espírito Santo, ele nos informou que há excelentes perspectivas de essas pendências serem solucionadas nos primeiros meses de 2013. O senhor tem alguma previsão de tempo em relação a esse fato?
– Nós estamos trabalhando aqui com a ideia de que o lado brasileiro esteja dando todas as informações solicitadas pelo lado russo de maneira a resolver essas pendências, que não são tantas assim, o mais rápido possível. Por isso eu não diria que vamos resolver em 2013. Nossa intenção é resolver todos os casos pendentes em 2012 e, se possível, antes mesmo da visita presidencial.

– Embaixador Paranhos, os nossos entrevistados têm sido unânimes em afirmar que uma das principais causas das dificuldades entre Brasil e Rússia é a falta de conhecimento mútuo. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
– É verdade. Eu acho que nós enfrentamos um problema de conhecimento, mas esse problema não é uma questão que se possa resolver através de uma fórmula mágica, do dia para a noite. É óbvio que é necessário um trabalho continuado de divulgação cultural, de divulgação de toda a área de conhecimento de um e de outro país, das práticas e realizações dos respectivos povos, etc. Então, isso é um trabalho permanente. Eu diria que aqui na Rússia o Brasil tem uma visão muito positiva, mas ainda um pouco estereotipada. O Brasil ainda é visto como um país de samba, carnaval, futebol, etc. O que não é mal. É uma visão simpática em relação ao Brasil. Há muitos jogadores de futebol brasileiros que foram contratados por clubes russos e trabalham aqui. Mas eu sempre digo, em diferentes entrevistas aqui, que o meu desafio como Embaixador do Brasil na Rússia é mostrar um país diversificado, um país que não corresponde apenas à visão em geral simpática que os russos têm do Brasil, mas também é a sexta economia do mundo, um país que tem a terceira maior indústria aeronáutica do mundo, um país que tem uma base industrial extremamente diversificada, um país que investe cada vez mais no campo de ciência e tecnologia. Aliás, eu tenho procurado sublinhar aqui a importância de ter instituições russas participando do importante programa Ciências sem Fronteiras, desenvolvido pela Presidente Dilma Rousseff. Nós devemos ter aqui agora, até o final do mês, uma missão chefiada pelo Ministro de Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp, para discutir, entre outros assuntos, a perspectiva concreta de participação de empresas e entidades acadêmicas russas no programa Ciências sem Fronteiras. Então, eu acho que é um trabalho, assim, cotidiano de divulgação de conhecimentos dos mais diferentes campos. Na área cultural, por exemplo, nós vamos ter, também na semana que vem, iniciando no dia 21 de novembro, o Quinto Festival de Cinema Brasileiro na Rússia, que já se consagrou como uma Semana, uma apresentação variada de filmes que geram uma muito boa receptividade. Este ano, nós vamos especificamente abrir o Festival com O Palhaço, do Selton Melo, que está concorrendo, pelo Brasil, ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Tenho certeza de que vai ter uma excelente receptividade aqui. Em outro campo, há uma excelente reação aqui à música brasileira em geral. É impressionante como as rádios de Moscou tocam muitas vezes músicas brasileiras recentes. Há uma rádio aqui, FM, que toca durante boa percentagem de sua programação músicas brasileiras. O que mostra que há um público para isso. Recentemente, houve um belíssimo festival comemorativo dos 55 anos da Bossa Nova, inclusive com patrocínio inteiramente privado, que trouxe artistas como Marcos Valle, Roberto Menescal e Paula Morelenbaum, entre outros, numa apresentação para mais de mil pessoas num grande teatro de Moscou. Foi um grande sucesso. Eu acho que é um trabalho permanente, compreende? Não há fórmula mágica para desenvolver o conhecimento. Eu acho que, sim, temos que trabalhar nos dois sentidos para um melhor conhecimento dos respectivos países, dos respectivos níveis de desenvolvimento e para uma melhor identificação das possibilidades de desenvolver projetos conjuntos.

– A propósito dessa observação que o senhor fez em torno dos artistas brasileiros que se apresentaram recentemente em Moscou, nós tivemos oportunidade de veicular a entrevista do Marcos Valle logo após a sua exibição, dizendo que, se não fosse o apoio prestado pela Embaixada Brasileira e pelo senhor, essa apresentação não teria acontecido.
– É um prazer ouvir isso, mas, na verdade, eu acho que não é mais do que o meu dever procurar ajudar em todos esses exemplos, em todas essas questões que projetem uma boa imagem do Brasil, dos artistas brasileiros de diferentes segmentos aqui na Rússia.

– Embaixador Paranhos, o Conselho Empresarial Rússia-Brasil está ajudando na elaboração da programação da comitiva empresarial brasileira que irá a Moscou acompanhando a Presidenta Dilma Rousseff. Essa comitiva, que será composta por 80 pessoas, segundo informações da Confederação Nacional da Indústria, participará, na capital russa, do Seminário Como Fazer Negócios na Rússia. Com toda a sua experiência como grande Embaixador do Brasil na Rússia, quais assuntos deverão ser incluídos nesse seminário de modo a atrair os interesses dos empresários brasileiros?
– Eu acho que esse seminário deve permitir um exame de áreas que me parecem cruciais. Por exemplo, a questão da regulamentação de investimentos. Como proceder para fazer investimentos? Como proceder para lidar e identificar empresas em um e no outro país para desenvolver projetos em diferentes áreas, sobretudo em áreas de produtos de alta tecnologia, de valor agregado. Essa me parece uma área muito interessante para explorar. Outra área muito importante, eu acho, é a área de serviços em geral. Acho que tanto o Brasil quanto a Rússia já estão suficientemente maduros para desenvolver uma cooperação na área de serviços, inclusive de serviços bancários. Já é hora de termos maior interação bancária, interação na área de serviços em geral. Eu também incluo um setor que me parece fundamental, que é o setor de transportes aéreos. Uma das metas da Embaixada é tentar obter uma reativação de uma linha direta entre a Rússia e o Brasil. Isso foi possível no passado, quando a Aeroflot era totalmente subsidiada pelo Estado. Mas hoje as empresas ainda não deslumbraram as possibilidades que a reativação de uma linha direta traria. Eu tenho sempre procurado ponderar que neste mercado é necessário ter a audácia de se iniciar algo, porque é visível o número de novas empresas no Brasil que têm explorado novas rotas, e visível também o grau de demanda, de aceitação, de interesse por parte do público brasileiro em relação a novos destinos. Eu estou absolutamente certo de que, no momento em que pudermos ter uma linha direta para Moscou – e, sobretudo, se for possível uma continuação daqui de Moscou para pontos na Ásia ou mesmo na Europa Ocidental –, essa será uma linha rentável. Mas, enfim, acho que esse seminário deveria se concentrar em novos produtos, no levantamento e discussão de novas oportunidades comerciais nos dois sentidos, regulamentação de investimentos e deveria ser para esclarecer muito bem ao público russo especializado que o Brasil é um país que tem regras muito claras a respeito de investimentos, que tem regras muito claras a respeito de repatriamento de capital, tem regras muito claras a respeito de imposto de renda para as empresas. E, vice-versa, procurar dar aos participantes brasileiros uma noção muita clara das condições de investimento no mercado russo. E, também, uma parcela do seminário deveria se dedicar ao exame das oportunidades de negócio na área de serviços dos dois países.

– O senhor falou ainda há pouco sobre aviões civis e comerciais, vamos falar agora sobre aviões militares. A imprensa tem informado sobre a possível compra pelo Brasil de caças da empresa russa Sukhoi para o reequipamento da força aérea nacional. Os contratos poderiam atingir a soma de 4 a 6 bilhões de dólares, caso a Rússia seja a vencedora da licitação internacional promovida pelo Ministério da Defesa do Brasil. A seu ver, quais são as possibilidades de a russa Sukhoi ser a vencedora dessa licitação?
– Primeiro, é preciso esclarecer uma questão básica: no processo de reaparelhamento das Forças Armadas, especificamente da Força Aérea, está em curso um procedimento – digamos assim – do qual a Rússia participou no passado com a oferta do avião Sukhoi-35. Mas a Rússia não foi incluída, na época, na chamada lista reduzida de países cujos modelos continuavam na disputa. Portanto, eu acho que a questão é um pouco mais complexa. Eu acho que os russos continuam tendo um grande interesse, é obvio, em explorar a possibilidade de vender seus aviões, que são muito apreciados e considerados tecnologicamente bastante avançados, para a Força Aérea. E têm feito ofertas, conversado sobre o assunto, etc. Mas o enquadramento dessa questão, pelo menos até agora, está dado pelo chamado projeto FX2, no qual o produto oferecido pela Rússia não está na lista reduzida de possíveis fornecedores. Agora, se houver um reexame do assunto, se houver uma modificação das condições dessa licitação internacional, aí eu acho que a Rússia tem todo o interesse em participar e mostrar a qualidade dos seus produtos. O lado russo já teve sucesso na venda de helicópteros ao Brasil. Houve uma importante operação de venda de 12 helicópteros para a Força Aérea. São helicópteros extremamente robustos. Ainda não terminaram a entrega completa do lote, mas já há vários operando na Amazônia, aparentemente com condições muito boas de performance. E no plano privado também já há empresas brasileiras que se interessam pela compra de helicópteros russos, que parecem se caracterizar pela robustez e pelo preço atraente. Eu não sou um especialista na matéria, mas é o que eu ouço dizer. Agora, com relação a jatos, acho que é preciso fazer esse esclarecimento, de que o assunto tem um determinado enquadramento jurídico-legal e, se as condições dessa licitação internacional forem mudadas, aí eu tenho certeza de que o lado russo voltará a se interessar em apresentar este ou outro modelo para oferecer à Força Aérea Brasileira.

– Embaixador Paranhos, voltando à questão do conhecimento – ou da falta de conhecimento – entre Rússia e Brasil, uma das melhores formas de esse conhecimento se manifestar é através da educação. A Voz da Rússia tem informações de que, mesmo existindo um programa de intercâmbios das universidades russas para estudantes brasileiros, esse programa não está sendo cumprido porque, mesmo com ensino gratuito, os jovens estudantes não têm recursos financeiros suficientes para se manter na Rússia. Existe algum projeto no Brasil de ajuda a esses jovens que desejam se formar na Rússia?
Ainda há pouco eu me referia ao programa Ciências sem Fronteiras, que prevê a questão não só da formação, mas também da realização de mestrado e doutorado no exterior. E, justamente, um dos objetivos que temos para a próxima visita do ministro da Ciência e Tecnologia aqui é o de conversar não só com o Ministério da Educação e Ciência da Rússia, mas também com a Associação das Universidades, a respeito das condições oferecidas para estudantes virem fazer cursos aqui. Eu acho que nós temos que trabalhar não só no plano de bolsas, mas também na questão do ulterior reconhecimento de diplomas. Eu me refiro a isso porque nós temos um número até significativo de estudantes brasileiros fazendo cursos de Medicina na Rússia. E acho que, mais adiante, todos eles vão ter que passar por um processo de revalidação, de reconhecimento dos seus diplomas. Então, acho que essa questão do incremento do número de estudantes aqui, da cooperação internacional, passa por essas duas vertentes. Primeira questão: bolsas satisfatórias para a subsistência do estudante na Rússia, para, inclusive, primeiro se fazer um curso de adaptação em russo, etc., e depois o curso de graduação, de mestrado ou doutorado que tenha escolhido. E também a questão do reconhecimento, revalidação do diploma aqui obtido no Brasil.

– Embaixador, o relacionamento cultural é um dos caminhos para que os povos se conheçam melhor. A Voz da Rússia tem conhecimento de que o primeiro-ministro da Rússia, Dmitri Medvedev, e o vice-presidente do Brasil, Michel Temer, cogitaram a possibilidade de realizar o evento Ano da Rússia no Brasil e Ano do Brasil na Rússia. Esse projeto está em andamento?
– Esse projeto está em andamento, sim. Já há um acerto político, como você citou, entre o vice-presidente Temer e o primeiro-ministro Medvedev, que são os copresidentes, digamos assim, da Comissão de Alto Nível Brasil-Rússia. Então, o projeto tem a chancela política, a aprovação para sua realização. Agora nós precisamos nos reunir em nível técnico, seja no Brasil ou aqui na Rússia, para o detalhamento desses programas. Eu acho que, obviamente, será uma boa oportunidade de explorar aquilo que eu dizia há pouco, a oportunidade de mostrar a diversidade num e no outro sentido. E acho que será um projeto muito interessante... Que possamos fazer a partir de 2013 esses Dias da Rússia no Brasil e esses Dias do Brasil na Rússia.

– Embaixador Carlos Antônio da Rocha Paranhos, a Rádio Voz da Rússia de Moscou é uma das maiores empresas de radiodifusão do mundo. É uma emissora que fala para 160 países e tem relações de parceria com outros grandes meios de comunicação. A Voz da Rússia está solicitando, inclusive, realizar no Brasil uma entrevista com a Presidente Dilma Rousseff antes da viagem presidencial à Rússia, com o objetivo de que os russos a conheçam melhor. Caso a presidente aceite conceder essa entrevista, ela será transmitida em pool por três das maiores empresas estatais da mídia russa: a própria Rádio Voz da Rússia, a Rádio Rússia e a TV Rússia. Trata-se de um feito absolutamente inédito, pois será a primeira vez em que um pool dessa natureza será montado para transmitir a entrevista de uma personalidade que é simultaneamente chefe de Estado e de Governo, no caso, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff. Qual é a sua avaliação, embaixador, dessa iniciativa?
– Tudo que puder contribuir para um melhor conhecimento do Brasil na Rússia e, evidentemente, em primeiro lugar, a entrevista da presidente da República a órgãos de comunicação russos– tanto na área de rádio quanto de televisão –, é extremamente positivo. Não há a menor dúvida disso. Eu acho que qualquer iniciativa de entrevista de altas autoridades brasileiras, divulgada aqui na Rússia, como também de altas autoridades russas divulgada no Brasil é sempre positiva, no sentido de aumentar essa exposição, esse conhecimento das prioridades de cada governante em relação às questões bilaterais. É claro que essas questões são examinadas por setores competentes do governo e decididas à luz, inclusive, da pesada agenda de compromissos dos nossos governantes. Então, evidentemente que eu só posso expressar, como embaixador, a minha opinião de que esse tipo de entrevista é sempre positivo. Mas isso também depende das possibilidades de agenda, enfim, da carga da agenda dos nossos governantes.

– Senhor Embaixador Carlos Antônio da Rocha Paranhos, nós da equipe brasileira do programa Voz da Rússia ficamos imensamente gratos pelas atenções que o senhor concedeu ao nosso programa e ao site Diário da Rússia, desejamos ao senhor e a todos da missão diplomática brasileira na Rússia os maiores sucessos e as maiores felicidades no desempenho de suas funções. Muito obrigado pela entrevista.
– Eu é que agradeço essa oportunidade de falar aos ouvintes da Voz da Rússia. Eu sei que é uma iniciativa que tem bom índice de audiência. E, como eu disse ainda há pouco, acho que todas as iniciativas se somam no sentido de permitir uma melhor visão do que se está fazendo, de quais são as nossas prioridades, com o objetivo de melhorar e incrementar as nossas relações bilaterais. Fico muito agradecido à Voz da Rússia por essa oportunidade e vamos trabalhar para o grande êxito da visita da nossa presidenta aqui em dezembro próximo.